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Temos assistido a uma evolução muito significativa nas formas como se estudam os problemas e se encara a realidade no âmbito das ciências humanas e sociais. Nomeadamente, deve-se reconhecer que os desenvolvimentos da psicologia cognitiva, da sociologia, da antropologia, não podem ser ignorados em ciências da educação, sob pena de ficarmos com uma visão muito parcelar dos problemas a enfrentar. O debate que temos vindo a assistir entre paradigmas nas ciências da educação, tem influenciado a investigação dos problemas educacionais, permitindo perspectivar as tensões e os dilemas que ocorrem presentemente na avaliação das aprendizagens.
Assim,
o desenvolvimento fundamentado de propostas alternativas de avaliação passa
pela compreensão e reflexão em torno dos pressupostos em que cada paradigma se
baseia.
Guba e Lincoln (1994) definem Paradigma como um
conjunto de concepções básicas, de natureza axiomática que um indivíduo possui
e que lhe proporcionam uma dada visão do mundo e da sua natureza. É através
desse paradigma que os indivíduos percebem o seu lugar no mundo e todo o tipo
de relações que possam estabelecer com ele e com as suas partes.
Foucault (1979) defende que Paradigma em
ciência, é um conjunto de práticas e discursos utilizados por uma comunidade
científica que implicitamente definem as questões e os métodos considerados
legítimos de investigação.
Kuhn (1970) afirma que Os Paradigmas são sempre transitórios. A
sua evolução e transformação está associada ao desenvolvimento de novos
conceitos, concepções e valores por parte da comunidade científica na sua
tentativa de procurar responder a problemas e a questões que o velho paradigma
já não permite responder satisfatoriamente. Surgem as "revoluções
científicas" que se traduzem pela adopção de novas práticas e formas de
pensamento e que se caracterizam por rupturas, visto o novo paradigma
questionar e pôr em causa os interesses estabelecidos de toda a ordem que
sustenta o velho.
Berlak (1992) considera que vivemos um
momento de tensão. O paradigma psicométrico, associado ao Positivismo que
fundamenta a avaliação de tipo normativo e criterial, largamente dominante nos
sistemas educativos, atingiu um período crítico, constituindo mesmo um
obstáculo à renovação e reestruturação das escolas. Simultaneamente emerge um
novo paradigma contextual, associado ao Construtivismo que considera o processo
de avaliação inseparável do contexto em que a aprendizagem tem lugar e cujos
principais objectos são os processos associados ao desenvolvimento cognitivo,
afectivo e moral que os alunos exibem no desempenho de tarefas diversificadas
de aprendizagem. A tendência poderá ir no sentido do desenvolvimento de uma
teoria de avaliação baseada na evolução daqueles dois paradigmas.
As
concepções básicas que definem um paradigma de investigação podem ser
sintetizados através das respostas dadas a três questões fundamentais:
a) Questão Ontológica
Qual é a forma e a natureza da
realidade? O que é que existe que possa ser conhecido?
O Positivismo defende que o
Investigador e o objecto investigado devem ser independentes. O investigador,
deve ser capaz de estudar o objecto, sem influenciar ou ser influenciado por
ele. O Construtivismo advoga que as realidades são apreendidas e
resultam de construções mentais elaboradas a partir de experiências e
representações sociais. Elas, dependem na sua forma e conteúdo das pessoas ou
grupos que as constroem. Podendo mudar à medida que os construtores se tornam
mais informados e sofisticados.
b) Questão
Epistemológica Qual é a natureza da relação entre
aquele que conhece, ou que quer conhecer, com aquilo que pode ser conhecido?
O Positivismo defende que o
Investigador e o objecto investigado devem ser independentes. O investigador,
deve ser capaz de estudar o objecto, sem influenciar ou ser influenciado por
ele. O Construtivismo rejeita a distinção convencional entre ontologia
e epistemologia, afirmando que o investigador e o objecto investigado estão
ligados interactivamente, de modo que os resultados são criados à medida que a
investigação se desenvolve
c) Questão Metodológica
Como é que aquele que quer conhecer
procede para descobrir aquilo que acredita que pode ser conhecido?
O Positivismo é experimental e
manipulativo. Dá ênfase à verificação de hipóteses, sendo elas sujeitas ao
saber. O Construtivismo usa técnicas hermenêuticas e a construção é
feita com base no intercâmbio, entre o investigador e o sujeito.
A
abordagem iniciada na questão Ontológica e continuada na Epistemológica, terá
que ser seguida nesta ultima. A questão metodológica não pode ser reduzida a
uma questão de método; O método deve ajustar-se a uma pré-determinada
metodologia.
Qualquer paradigma representa o
resultado do melhor pensamento dos seus proponentes, expresso através das
respostas dadas às três questões propostas. Ora tais respostas, como
construções humanas, estão sujeitas ao erro. Por isso mesmo, não há construção
que possa ser ou vir a ser considerada inequivocamente certa.
Só a
persuasão e a utilidade, em vez da demonstração, poderão servir para argumentar
na defesa de uma dada perspectiva.
Porém,
devemos sempre compreender o indivíduo por si mesmo, sem fazer comparações com
outros.