quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Ligação das comunidades de ensino


"Uma organização não é uma ilha. Ela faz parte de vários sistemas diferentes que interagem entre si.”
Peter Senge, 1990

A grande generalidade da classe docente gosta de ensinar e entusiasma-se com qualquer coisa que ajude os seus alunos a aprender. Contrariamente à ideia que percorre um pouco transversalmente o nosso tecido social, não se sentem contrafeitos à inovação, à experimentação ou à introdução de novas realidades, desde que elas sejam conduzidas com o fito de funcionar como catalisadores para atingir os objectivos educacionais que eles, mas também, os encarregados de educação e a comunidade pretendem alcançar. “O que não querem é ser confrontados com algo que não tiveram oportunidade de aprender e em que não se sentem à vontade” (Gates, 1999, p.341). Reconhecem que encontram-se fechados durante muito tempo numa sala de aula e que dispõem na razão inversa de pouco tempo para partilhar experiências ou interagir com os colegas. Durante o ano, poucas são as vezes em que podem reunir-se com os seus pares.
Ora, as ferramentas e as interligações da era digital fornecem-nos métodos fáceis para a obtenção e partilha de informações – bem como, para actuarmos de acordo com as mesmas – por intermédio de métodos simultaneamente novos e notáveis. Pela primeira vez, todo o tipo de informação – números, texto, som e vídeo – podem ser convertido para uma forma digital que qualquer computador é capaz de armazenar, processar e enviar. Na área digital a Internet cria um novo espaço universal para a partilha de informações, para a colaboração. As suas potencialidades na busca de informações e no contacto entre pessoas com interesses comuns são algo inteiramente novo.
A criação de um endereço electrónico pessoal de todos os professores, promovendo esta ideia com o estabelecimento de uma campanha de incitamento à adesão pessoal a esta iniciativa, permitirá que os docentes utilizando o e-mail, comuniquem uns com os outros acerca de temas de interesses comuns, partilhando os seus pontos de vista. Esta colaboração irá processar-se quer entre professores de um determinado ano quer entre aqueles que coordenam programas de vários anos. “Os computadores permitem que os professores ultrapassem mais facilmente os limites das suas salas de aula e interajam com os seus pares” (Gates, 1999, p.343).
”As fundações para o crescimento e a sustentabilidade neste novo ambiente de aprendizagem é a contínua geração e troca de conhecimento, um processo tornado possível pelo nosso desejo herdado e capacidade para nova aprendizagem” (Marshall, 1998, p.188).
Mas, para isso, deve-se tomar algumas medidas para a concretização destes pressupostos que passam por:
1) Fomentar na formação de professores a alteração dos currículos e dos métodos pedagógicos nas escolas superiores de educação e estabelecer esquemas de incentivos à reciclagem promovidos no seio de todas as escolas;
2) Incentivar a formação contínua dos adultos nas escolas. Isto exigirá, em alguns casos, uma prévia realfabetização com novos contornos que os institutos públicos e privados de formação devem desenvolver em consonância com as empresas e associações empresariais; e
3) Dar ao direito à formação de adultos a mesma dignidade do direito à educação das crianças e dos jovens, sendo necessário repensar políticas de enquadramento dessa formação dentro das organizações e das famílias.
A introdução das tecnologias de informação só por si não opera a mudança. A tecnologia vale o que vale. São as pessoas com a sua vontade e através da organização do trabalho que poderão tirar vantagem deste novo jogo. Mas, só se joga um novo jogo se houver estímulo para tanto.
Porém, a inserção das novas tecnologias na sala de aula pode ser uma ferramenta de apoio que ajude a alterar a experiência de ensino, abandonando o método tradicional onde o professor fala em frente da turma, apoiando-se numa série de apontamentos, passando para um processo mais dinâmico.
“ Um PC pode ser um novo e poderoso instrumento de ensino para os professores que saem do mundo do quadro preto” e do giz. Graças ao PowerPoint, por exemplo, os professores sabem que podem manter as crianças atentas ao assunto mediante a inclusão de fotografias, de excertos de filmes e de ligações às páginas da Internet” (Gates, 1999, p.342).
As grandes exposições sobre todos os temas importantes poderão estar disponíveis na Net. As escolas poderão usá-las como ponto de partida para as apresentações, criando grupos de estudo e de debate sobre os vários temas. Uma situação que poderá vulgarizar-se é a de um aluno explorar um determinado tema e depois, discuti-la em grupo o que aprendeu. Com a interactividade da Internet, grupos de trabalho podem facilmente ser formados por todo o mundo para discutir temas de interesse comum.
Além disso, com o acesso à Internet por parte dos discentes, permite-se que os alunos explorem um determinado tema de diferentes maneiras, que a partir duma sala fechada se faça viagens virtuais aos museus mais importantes de todo o mundo, trocando experiências, dúvidas e conhecimentos.
A maioria dos sistemas de ensino em todo o mundo está apenas a começar a levar os computadores para as salas de aula. A sua inclusão passará pelas fases que passo a especificar:
Figura 3- As 4 fases para a introdução dos computadores na sala de aula

O arranque para a universalização do acesso a computadores nos ensinos básico e secundário, com a intensificação da utilização da Internet como base de aprendizagem e o uso de programas específicos para os conteúdos programáticos de cada ano requer capacidade de liderança do Conselho Executivo da escola, do Ministério da Educação e de um plano tecnológico que forneça um projecto para desenvolver e gerir a infra-estrutura técnica, para integrar a tecnologia nos cursos e para formar professores.
Com a introdução das novas tecnologias, os estudantes podem aceder aos conteúdos programáticos a partir de casa, quando lhes for mais conveniente. O ensino à distância permite, ainda, que os alunos retidos em casa por acidente ou doença mantenham-se a par do que se passa na sala de aula. Em outros casos, os docentes que estão retidos em casa por motivos de saúde permite auxiliar os professores substitutos, caso seja esse o seu desejo, a orientarem o seu trabalho.
O envolvimento dos encarregados de educação é importante para implementar qualquer programa. Sabendo-se da dificuldade que muitos sentem em conciliar o seu papel de educadores com a sua actividade profissional, por incompatibilidade horária, uma das possibilidades existentes de fazê-los aceder à escola para inteirarem-se das actividades dos seus educandos é por intermédio da Internet. Nomeadamente, o website procurará mostrar os conteúdos programáticos das diversas disciplinas a ser implementado no ano lectivo correspondente, o método que os professores estão a empregar, aquilo de que necessitam aprender na semana em curso e o número de faltas dos alunos.
Além disso, dar-se-á a todos os interessados a possibilidade de acederem ao correio electrónico de cada um dos professores e ao director de turma, por forma a introduzir qualquer questão que julguem pertinente colocar. Do mesmo modo, o professor a partir de casa, poderá aceder ao seu correio electrónico e ler as mensagens recebidas. Todo este processo passará pela necessidade de fomentar esquemas de aquisição de computadores por parte da escola, das famílias dos alunos e dos professores.
Para as famílias que não tenham a possibilidade em adquirir material informático proponho, através de protocolos entre as escolas e os produtores / vendedores de equipamento informático, a criação de um centro de recepção de computadores mais antigos e cedidos por todos os que deles já não precisem pagando por eles um preço simbólico a estabelecer, enviando-os depois, devidamente reapetrechados, para essas famílias..
A utilização da infra-estrutura da escola para apoiar a educação de toda a comunidade é uma forma importante de tirar partido – e de justificar – os investimentos feitos na tecnologia. Deste modo, as instituições de ensino precisam, repete-se, de fazer parcerias com o sector privado para custear as infra-estruturas necessárias. As empresas de computadores instalados em território nacional poderão assumir este papel, individual ou colectivamente.
“Sabendo-se que nos próximos anos, tanto os Estados Unidos como a Europa precisarão cada um de mais de 500 mil novos profissionais especializados em tecnologia da informação, pode-se aliciar essas entidades sugerindo tratar-se de “um circuito de investimentos em que a comunidade empresarial investe na escola hoje para receber, amanhã, trabalhadores mais qualificados” (Gates, 1999, p.346).
A pertinência desta mudança resulta do facto de num momento em que se questiona o papel da escola, todos os actores envolvidos no processo educativo necessitam de transmitir à sociedade em que estão inseridos, a ideia que estas organizações são “sistemas dinâmicos, adaptáveis e auto-organizáveis, não apenas capazes mas inerentemente desenhados para se renovarem a si mesmos e para crescerem e mudarem” (Marshall, 1998, p.188).

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